Layout por:
The Sadgirl
[Wednesday, July 26, 2006]
O passado é parte de nós. Hoje o beija flor viu as fotos antigas, e na maior sem cerimônia, apontou e disse "mamãe". Acho que foi para minha bisavó. Ou para minha avó, ou uma das minhas tias avós. Não é de surpreender, todas temos muitos traços em comum. Mas é estranho ver ele olhar com toda aquela atenção para as fotos... quase assustador. Mas acontece. Nos olhos dele me reconheço, as vezes olhando fotos antigas, vejo o beija flor em outras crianças. Todos nós dentro de uma única ancestralidade, e unidos pelas fotografias.
Fotografia. Literalmente, a escrita da luz. Fico pensando na luz escrevendo coisas, e soa bem fácil de enxergar. É o que grava informações no cd e o que grava a memória do sol na minha pele. Ando as voltas com fotografias mais que nunca. Sejam as contantes tiradas no celular, sejam as que retrabalho no computador, ou as cento e tantas que escaneei nos ultimos dias.
Somos obcecados pelo registro. Uma obscessão boa, será que eu poderia dizer? Fazemos esforços medonhos para manter vivas as lembranças, e as fotografias fazem isso muito bem.
Fico por aqui. eu, meu bisavô e minha bisavó.
dedicado por Sarah Helena * 5:05 PM
|
[Thursday, July 20, 2006]
Composição: Kalil Gibran/Zé Geraldo/Aroldo Santarosa/Luiz Bueno/Fernando Melo O mês de abril cobre a terra com ervas e floresA Terra de Gibran
As amendoeiras e macieiras com suas roupas simples
parecem noivas dos filhos da poesia
A Primavera é bela em toda parte
mas é mais do que bela no Líbano
A Primavera é a alma de um Deus desconhecido
que percorre o mundo apressado
e quando passa pelo Líbano
detém o passo e conversa com as almas
dos reis e dos profetas que vagueiam no espaço
Na Primavera Beirute é muito mais bela
pois está livre das chuvas do inverno e da poeira do verão
Parece uma linda mulher sentada à beira da fonte onde se banhou
deixando que os raios do sol sequem o seu corpo
Quando chega a noite a lua se levanta detrás da montanha
e estende sua luz sobre as colinas
As aldeias aparecem nos flancos das montanhas
como que surgidas do nada
O Líbano então é como um jovem deitado sob um véu
que cobre seus músculos sem os esconder
É uma palavra poética
Simboliza sentimentos
Evoca florestas de cedro entre perfumes de incenso
Lembra torres de bronze e mármore marcadas pela glória
Lembra bandos de gazelas correndo através dos prados
Aviões e bombas cruzam os céus do Líbano
Aviões e bombas cruzam os céus do Líbano
O Líbano hoje é como um velho curvado
por muitos anos de lutas e lutos
Um velho com os olhos abandonados pelo sono
à espera da aurora como um rei destronado
em meio às cinzas do seu trono e as ruínas do seu palácio
O Líbano tinha a lua cheia e a alma feliz
Hoje é um escuro triste exausto e solitário
Aviões e bombas cruzam os céus do Líbano
Aviões e bombas cruzam os céus do Líbano
É difícil falar de certas coisas. Porque eu sinto amor pelo Líbano? Por causa de Gibran, com certeza. Mas também porque eles tem uma árvore na bandeira, e na minha infância nenhuma bandeira me parecia tão bonita quanto aquela. E meu pai me ensinou que o Líbano era um país sofrido pela guerra. E eu amei com aquela compaixão que as crianças tem por coisas que não compreendem com perfeição, aquele país de árvores e poetas.
Depois eu soube que o Líbano e o Brasil tem muito mais em comum que árvore poeta, bandeira. Tem gente. Muita gente. Neste momento, cem mil brasileiros vivem no Líbano e trinta mil passam féria lá. Neste momento, duzentas pessoas do grande ABC, onde moro, estão no Líbano sem conseguir sair.
Eu cresci com um amor discreto e nostálgico pela terra dos cedros. Amo o perfume da madeira do cedro quando eu entalho nela. E mesmo sendo tão diferente em tanta coisa, mesmo tendo uma fé com a qual eu assumo meu preconceito, mesmo assim, ainda é meu o Líbano, como era quando eu era uma menina. E eu sofro, profundamente, ao ver o que está acontecendo lá.
Como podem permitir essa violência? Como o povo israelense, que já foi tão tiranizado, pode se tornar ele mesmo tirano? Não consigo aceitar. E estou escrevendo aqui meu repúdio ao Estado de Israel, meu repúdio a essa ofensiva ridícula e exagerada, que vitima vítimas civis, e crianças inocentes, como já acontece há anos na Palestina, e o mundo faz ouvidos moucos.
Uma vez, meu pai perguntou ao xeque Jihad qual o caminho da paz no Oriente Médio. O xeque olhou meu pai nos olhos e respondeu uma única palavra: Justiça.
É com essa palavra que me despeço, acalentando esse desejo no meu coração.
Justiça para o Líbano
dedicado por Sarah Helena * 5:37 PM
|
[Saturday, July 08, 2006]
Habemus Junito
E não, eu não comecei a cumprir a meta da lista de comprar 5 livros novos. Estes vieram do sebo, em muito bom estado, de fato. Para quem não sabe quem é o Junito, "Junito" é o modo carinhoso de falar da coleção Mitologia Grega do Junito de Souza Brandão. Esses três livros estão entre aquilo que de melhor se escreveu sobre o assunto em português, e são chupinhados por um sem número de outros livros. No sebo, consegui os volumes II e III. Agora, só falta o I. Não tive tempo ainda para grandes explorações na leitura, comprei o livro às cinco e meia, as seis e meia fui trabalhar, cheguei as onze, fui tomar uma cerveja na varanda com a mãe, pai e o koshari, o gordo chegou, fui brincar no photoshop, ler emails, e agora estou aqui. Folheei o livro enquanto jantava, sem pressa agora que tenho um meu.
Folheando, li na guarda do livro o papel colado de um outro sebo, onde ele foi comprado antes, por um antigo dono. Já me surpreendeu reencontrar o livro no sebo: alguém o comprou e vendeu de volta. Mas antes disso, ele foi vendido em um sebo em Perdizes, Sampa. E antes onde será que ele foi comprado? O livro teve ele mesmo sua trajetória mítica, heróica, para chegar na minha mão, a um terço do seu preço de capa, um pouco sujo, bastante lido, a lombada amarelecida.
O que tera visto o meu Junito, em estantes ou empilhado por ai, encaixotado, empoeirado, adjetivado, lido, dentro de casa, em ônibus, parques, faculdades, até ser ensacolado e posto para andar em um carrinho de bebê, desembrulhado em uma mesa de café, entre comentários de como foi boa minha aquisição e sobre como o frio de julho se estende quando o sol cai?
ps-eu gosto mais dos sebos que embrulham os livros em papel craft do que aqueles que os enfiam em sacolas. O craft rosa é muito mais terno e aconchegante do que o plástico.
dedicado por Sarah Helena * 2:29 AM
|
[Wednesday, July 05, 2006]
Então eu sai e nós fomos para a LAN. Na Lan eu sempre pego bolinhas maravilhosas. É como se cada esfera colocada na máquina tivesse sido escolhida. Tão bom, só no SOGO. Mas a máquina quebrou e agora as bolinhas imitando caveiras camicases com relevo e tudo desapareceram. Então, eu estava parada diante da máquina, que é baixa demais para ser confortável pegar as bolinhas sem me agachar, olhando e pensando em como seria bom pegar a transparente com riscos perolados, ou a áspera com manchas coloridas cercadas de preto. Moeda na fissura, giro a manopla, escuto o barulho familiar, e ergo a tampinha: voilá. Laranja e amarela, brilhante.
Eu pego outra moeda no bolso, e de maneira surpreendente, outra, quase identica a anterior. Terceira moeda, e meu dia foi ganho: a transparente com riscos perolados é minha.
Consulto o bolso. Mais três moedas. De novo, giro a manopla, e agora vem uma laranja opaca, intensa. Outra amarela e laranja. E finalmente, a manchada com bordinhas pretas
Enfio as bolinhas no bolso, enquanto corro para subir as escadas. Foi divertido, juntar moedas por tanto tempo. Agora, que minha obcessão é pública, vários amigos me trazem as moedas velhas de 50 centavos, cada vez mais raras. Consegui seis bolinhas de uma vez. A textura delas é muito macia, mas o mais delicioso é o cheiro.
Quando chego em casa, pego o pote onde elas se acumulam. Não conto quantas são faz muito tempo. Cheiro o pote, a borracha perfuma minhas narinas. A cor lá dentro é bonita, como uma festa infantil nos anos 80. Eu não consigo me sentir infantil mexendo com elas. São bonitas demais para qualquer sentimento de culpa. Despejo as últimas seis bolinhas lá dentro, e depois viro no meu colo o pote, colocando uma por uma de volta. Uma, duas, cinco, sete, doze. Quando a última, transparente com um peixinho azul dentro, cai junto das outras, eu falo Cem.
Exatas cem bolinhas, um dia depois de começar a lista e anotar lá: "juntar cem bolinhas de borracha".
Primeira tarefa cumprida. Só faltam cem agora.
dedicado por Sarah Helena * 2:43 AM
|