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The Sadgirl
[Monday, February 20, 2006]
Fui olhar lá fora a chuva. Passei pelo encanto chinês que fica na porta, olhei aquela máscara para espantar os espíritos... olhei na janela, uma máscara semelhante sobre nós vermelhos. Na janela do quarto, é Kwan Yin, na porta dos fundos, moedas e uma espada. E fios vermelhos e nós mágicos. E existem as runas, as sequências rúnicas que meu pai riscou nas paredes antes da pintura, e feitas a giz por mim...
Muito deliciosa a sensação de proteção. E ando tento pesadelos, koshari lembrou "mas é porque vc não pendurou as teias de sonho". Verdade... preciso inclusive comprar uma (fazer seria melhor) para pendurar no berço do beija flor.
O ar está abafado. A chuva ameaça mas cai muito brevemente. Fica um ar parado. Fico olhando pensando onde pendurar meus sinos de vento. Com certeza um deles vai ficar perto do altar... mas qual?
Tem grilos na rua. O ar frio entra pelas janelas (fico imaginando porque o nome dessas janelas é capela), e me permite respirar melhor.
Símbolos de proteção são um dos pontos fundamentais na minha visão de lar. Salgrosso espargido na casa, incensos. Sinos tocados no início do ano. Mas é necessário um sinal, uma marca que diga "este lar está protegido" "ninguém entra sem ter boas intenções, ou sem ser convidado".
Na casa de meus pais, O Sagrado Coração de Maria, o Divino Espírito Santo e as runas de meu pai. Na minha casa, a chave da Senhora, o altar dos ancestrais, Kwan Yin.
Cada casa tem seus sinais. Tem uma Diana Caçadora na parede de uma casa próxima daqui; em outra, conchas de vieira por toda a fachada. Na casa de meu bisavô, a bíblia de púlpito, de frente para a porta. Na casa de um amigo, pimentas amarradas, louro e uma figa. A carranca enorme na porta da prima do meu pai (eu amava aquela carranca). Os elefantes brancos e os versos sagrados; uma oração inscrita na plaquinha de metal no batente direito da porta, onde só reconheci um aleph e duas letras de que não lembro o nome; a garrafa cheia de pregos enterrada.
Não sei viver sem enxergar símbolos. A vida é mais fácil quando simbólica. E ainda melhor quando protegida.
E nem citei as plantas que vejo por ai...
dedicado por Sarah Helena * 8:26 PM
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[Thursday, February 09, 2006]
Etapa Um
Tirar tudo que estava em cima. Arranjar lugar, mesmo que provisório. Tirar o que estava dentro. Como isso veio parar aqui?
A poeira parecia de séculos, mas há dez anos atrás ele ainda tinha seu uso original. Uma contrução faz essas coisas. Havia pó de cimento e tijolo. Muito pó. Aquilo que estava estragado, deve ser trocado. Como apareceu aquele buraco? A diferença entre a madeira e o papel...
Ótimo. Arrancado. Não sem trabalho. E agora? Como substituir? Se fosse há um mês atrás... mas não, é agora. E como substituir? Ali esta ele, cadeiras servindo como cavalete, com ar desmontado. Mas quase limpo.
Ele me olha com olhos de vitrine tentando entender o que farei dele. Paciência. COnforme-se em estar quase limpo. E nas minhas mãos. Que nunca fariam dele uma fogueira.
dedicado por Sarah Helena * 6:11 PM
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[Wednesday, February 08, 2006]
Muitas vezes fui acusada de perder a fé. Seja piada ou acusação formal. Mas eu nunca consegui realmente perder a fé. Não está em mim ser capaz de viver sem acreditar. Já odiei o deus que anters servia, mas não consegui ficar sem nenhum. Me apeguei a outros, que me abrigaram nas tempestades e me cobraram ser mais forte, mais corajosa. Deuses que tme olhos muitas vezes mais duros que o primeiro que servi. E que tem uma tendência a me fazer viver sempre pelo caminho mais difícil. Mas sabe, eu gosto disso. Porque eles me fazem forte e capaz, e não uma ovelha.
Como o koshari diz, nós nascemos para ser lobos.
A fé é uma coisa complicada, porque envolve se dar para algo do qual só conseguimos compriender uma parte. E fazer escolhas sem conhecer toda a consequência. Ter fé é aceitar que vai conhecer prazeres e alegrias maiores, e dores que nem imaginava existirem.
As vezes eu achei que ia doer pra sempre e não mudaria. Me enganei. Fico orgulhosa de mim por ter sido capaz de gerar vida e ter essa vida nos braços fora de um hospital. Fico olhando com ar quase superior quando escuto o kosahri bocejar aqui ao lado e sei que tenho ele comigo por nossa livre escolha e apesar da torcida contrária.
Mas a fé é uma coisa que nos deixa confusos. Porque sempre nos força a ir além, a fazer mais, a ser mais. A fé não nos deixa parar. E é por essas e por outras que vou escrever mais essa semana ainda...
dedicado por Sarah Helena * 3:47 AM
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