Perfil

Nome: The Sadgirl, mas aqui pode chamar de Filhote de Lua
Idade: 23
Signos: cão ascendente cão, libra ascendente touro
Música: The secret of Roan Inish (toda a trilha sonora)
Uma Verdade: Tudo Acontece da Melhor Forma
Uma certeza: Minha Fé e meu Amor



Outros Caminhos


A sorveira e o carvalho
em Canto: poiésis & pensamento
Dança do Tempo
Zoe Tarot
Correndo com lobos



Trilhas na teia



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Florbela Espanca

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Outros jeitos de dizer o que sou
















Já passaram por aqui hits.


101 coisas em 1001 dias
101 coisas
1001 dias

as tarefas

A Casa

1- Organizar a cozinha
2- Refazer meu mural magnético
3- Manter o quarto arrumado por duas semanas inteiras
4- Organizar as imagens do computador
5- Montar um caderno de receitas
6- Plantar alguma coisa na calçada de casa
7- Tornar o jardim habitável
8- Plantar ervas de cheiro em um vaso na janela da cozinha
9- Fazer brownie de chocolate

Koshari

10- Fazer uma lista com 30 coisas que o Koshari gosta
11- Fazer ele curtir, no mínimo, uma coisa dessa lista por semana até o fim da lista.
12- Tirar um filme inteirinho de 36 poses com fotos só eu e o Koshari

Beija Flor

13- Levar o Beija Flor conhecer a Tataravô
14- fazer o scrapbook digital do Beija Flor
15- Fazer apliques para todas as roupas do Beija Flor que precisam de reforma

Fé

16- Entalhar uma imagem de Hecate
17- Fazer uma teia de sonhos
18- Conseguir um baralho de tarot novo
19- Voltar a estudar o tarot
20- Montar meu altar definitivo
21- Cumprir um ciclo de rituais sazonais

Minhas mãos se movem

22- Fazer um teatro de fantoches
23- Construir um Dragão ou Leão para o Ano Novo Chinês
24- Organizar e mandar o projeto do Pêssegos (o livro) para o FAC
25- Colocar a máquina de costura para funcionar
26- Fazer um bicho de pano pro Beija Flor
27- Fazer um bicho de pano pra mim
28- Fazer bonecas comercialmente
29- Pintar 5 telas
30- Fazer uma cortina de tsurus

Meus pés se movem

31- Ir a pelo menos 2 eventos orientais esse ano
32- Visitar o Trianon
33- Visitar o Solo Sagrado
34- Ir no Hopi Hari
35- Fazer uma trilha
36- Visitar uma praia fora do Estado de SP
37- Voltar em Parati
38- Viajar de trem

Minha mente se move

39- Alugar três filmes dramáticos/românticos e assistir, mesmo que só eu queira vê-los.
40- Assistir um show do Cordel do Fogo Encantado
41- Ouvir música por 24 Hrs seguidas
42- Ler as Crônicas de Nárnia

Meu corpo se move

43- Fazer mechas azuis no cabelo
44- Fazer duas tatuagens
45- Colocar um varador na orelha
46- Passar uma semana com o cabelo preso toda vez que eu sair
47- Fazer um segundo óculos bem transado
48- Sair de noite pra dançar
49- Ir a uma rave

Minha memória se move

50- Reencontrar alguém da faculdade e beber cerveja
51- Beber cerveja com o Andrezão pelo menos uma vez por ano.
52- Ir a uma reunião de diretório do Partido
53- Fazer as pazes com alguém
54- Enviar 25 cartas pelo correio

Fazeres

55- Fazer uma festa Anos 80
56- Fazer um jantar japonês
57- Fazer um jantar para os amigos
58- Fazer um pic nic

Brincares

59- Juntar 100 bolinhas de borracha de máquina
60- Brincar de amarelinha
61- Montar e por para funcionar o Ferrorama
62- Montar um quebra cabeças de mil peças
63- Montar um quebra cabeças de 5 mil peças
64- Andar de Montanha Russa
65- Fechar o Fatal Frame 2

Conheceres

66- Aprender a tocar baixo
67- Fazer um curso de canto
68- Começar a estudar japonês
69- Aprender a bordar

Cuidados

70- Ficar uma semana a base de alimentos naturais
71- Ir ao ortopedista
72- Ir ao otorrino e descobrir se minha audição está 100% ou não

Ordenações

73- Fazer uma agenda de telefones
74- Fazer um diário por três meses (mínimo de 5 escritos por semana)
75- Enviar cartões de natal, todo ano até terminar o projeto
76- Escovar todos os meus bichos de pelúcia
77- Fotografar e catalogar todos os bichos de pelúcia da casa
78- Começar o Mestrado
79- Cumprir 20 propostas do Livro da Tribo

Conexões

80- Escrever posts com qualidade literária mínima para cada tarefa realizada
81- Atualizar o Buscas uma vez por semana (mínimo) por dois meses
82- Preparar e postar no blog uma lista de 50 livros que valem a pena
83- Preparar uma lista com 30 músicas da MPB que podem ser consideradas pagãs, e publicar junto com as letras
84- Montar e deixar on line a página sobre Bichos de Pelúcia
85- Criar um site para vender as bonecas artesanais

Aquisições

86- Comprar 5 livros novos
87- Comprar os CDs do Cordel
88- Comprar uma rede
89- Comprar ou ganhar um jogo de Tafl
90- Comprar 2 itens na loja virtual do Projeto Tamar
91- Comprar um kimono
92- Mandar fazer um uniforme de Star Trek
93- Assinar a revista Vida Simples

Eu e o mundo

94- Montar uma árvore genealógica o mais longa que eu conseguir
95- Ajudar de 5 jeitos o S.O.S. Gatinhos
96- Contar histórias para crianças em pelo menos um evento
97- Doar sangue voluntariamente
98- Participar do museu da pessoa
99- Tirar a carteira de motorista
100- Fazer um quadro de presente para a Casa de Parto

E para poeticamente chegar a um final...

101- Fazer um barquinho de papel e soltar ele no meio fio em um dia chuvoso




Layout por:

The Sadgirl

[Saturday, December 31, 2005]

Eu sinto falta de colocar leite e biscoitos pro papai noel. E capim pras renas... tomava um cuidado absurdo com isso. Agora, a partir do ano que vem vou voltar a fazer isso. Pro beija flor. Ou melhor seria dizer, com o beija flor?

A fantasia é uma coisa que move o mundo. Como a gente pode ousar viver sem acreditar, eu não sei. Um exemplo disso é o ano novo.

Ano novo é uma coisa totalmente falsa. Um dia escolhido de modo aleatório para marcar um novo ciclo. Mas dá para imaginar viver sem ano novo? Sem algo que nos dissesse que coisas ruins ficaram pra trás, e que coisas boas vão estar chegando?

"adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize, no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender... para os solteiros, sorte no amor, nenhuma esperança perdida, para os casados, nenhuma briga, paz e sossego na vida..."


Minha avó cantava isso pra mim todo ano...

Quando eu penso em ano novo, eu fico feliz. Comemoro cada um que posso: oficial, pagão, chinês, judeu, até o calendário doido que conta o ano 0 como o dia em que o homem pisou na lua...

Vou terminar esse post de ano novo contando uma história boba...

Eu tinha sete anos e um elefante de vidro pendurado no pescoço. Ele era mínimo, preto, lindo. Eu amo esse elefantinho até hoje. Mas no início da madrugada, pouco depois da meia noite, percebi que a corrente tinha arrebentado. Eu procurei ele na rua toda (na época, faziamos a festa na rua), perguntei para cada um se tinha visto meu elefantinho... fui dormir meio desconsolada com aquilo.

Quando acordei, tinha um envelope de papel do meu lado,, escrito assim: "o ano velho passou por aqui antes de ir embora e deixou isso pra te entregar". Dentro, meu elefantinho de vidro. Eu fiquei profundamente grata ao ano velho por aquilo. O elefantinho, até hoje está guardado no meu baú de tesouros. Foi um ano bom aquele. O meu último ano em que pude ser criança mesmo. E hoje falo isso sem dor.

O ano novo sempre trás coisas boas. Vale a pena... desejo a todos um feliz ano novo...com o direito a resgatarem todos os elefantinhos pretos perdidos por ai...









(ps- o "ano velho" em questão foi meu avô que vasculhou a rua toda com um farolete até avhar um elefante preto em uma madrugada escura)


dedicado por Sarah Helena * 3:39 AM
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[Tuesday, December 06, 2005]

Ontem me dediquei a duas atividades desagradáveis. Ler um artigo de Jeohzadac (acho que é isso o nome do infeliz) Pereira, um fanático religioso com página na internet, sobre o Crônicas de Nárnia, e começar a ler o Malleus Maleficarum.

Por que raios alguém se dedicaria a atividades que aparentam só ter valor masoquista? Pois é. Porque eu queria entender o que eles pensam, queria compreender porque se horrorizam tanto porque eu, mulher, pagã, orgástica, com filho, com desejo, com companheiro mas sem casamento, sou como eu sou.

De fato, a introdução e o prefácio do Malleus são ótimos. São análises sobre o pensamento patriarcal, inclusive uma dessas análises é uma ánalise do ponto de vista psicanalítico.

O assustador é que minha leitura, ainda muito superficial do Malleus se comparada ao texto do Jeo-sei-lá-o-que (gente, não tenho o intuito de ser desrespeitosa com o cara, mas realmente não consigo escrever o nome dele, e estou na escola, então não tenho como consultar o nome), trás a percepção de que os dois rezam pela mesma cartilha. O manual do inquisidor, o martelo das feiticeiras, é usado como parâmetro até hoje sobre o que é demoniaco, o que é mal, o que deve ser punido, evitado.

O problema todo repousa na necessidade de controle. Ainda que possa ser discreto, é doentio. Os fanáticos religiosos tem um problema psiquiátrico com o poder: eles querem controlar, eles querem ser superiores. Eles tem medo de Deus, e querem que as pessoas mais fracas tenham medo deles.

Como pode ser aceitável que alguém fale contra a fantasia? O texto contrao Crônica de Nárnia diz que unicórnios são demoniacos, que o simbolismo é demoniaco, que Jung é demoniaco. Mas acima de tudo, imaginar, fazer de conta, é nefasto e nocivo.

A fantasia é território do diabo.

Caramba se a fantasia fosse território do diabo, não existiria tanta variedade de vida animal na terra. Santa Teresa D´'Avila não seria santa (e ela era, mesmo não sendo católica a considero santa). Se fantasia e imaginação não fossem sagradas, não teriamos dividido com os Deuses a capacidade de criar.

Fico chocada e triste. Porque o beija flor vai ter a chance de ter todos os coelhos da páscoa, Papais Noéis, Befanas, dragões, duendes, fadas, orcs, ogros, bichos papões, sortilégios para afastar bichos papões.

Mas e o Fernando? Meu quase primo? Meio irmão do meu irmão de espírito? Ele vai ter essa chance? Ou será criado para negar a fantasia, cercado de fanaticos religiosos. Tenho medo por ele...

Depois escrevo melhor. Com o Malleus na mão e o texto e o nome do cara.

Mas não queria deixar passar.


dedicado por Sarah Helena * 1:42 PM
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[Monday, December 05, 2005]

Bom, este é o primeiro teste do novo lay out. O AND já me deu umas dicas que vou mexer aqui, ainda, mas ja quis coloca-lo. Sabe como é, estva cansada de viver um desenho que não era meu... e que eu não tinha idéia de quem fosse. A imagem principal deste lay-out, da mulher com os lobos,é de autoria conhecidíssima, mas não tenho o nome aqui comigo. Logo coloco o crédito certo. Tem diversas imagens com referências ao xamanismo, da mesma autoria. E valeu, MoonSong, pela ajuda com o photoshop. Ainda estou me re-adaptando.

E lembrando que esse lay out é bem simples, e é de propósito. Um, para ser leve de carregar a imagem. E porque é o espírito que quero trnasmitir, uma coisa mais despojada. Mais simples.


Complementando o post, vai uma lista de perguntas, dessas enquetes que tanto se vê na internet. Mas estas aqui ficaram conhecidas pq o Proust (aquele do Em busca do tempo perdido) respondeu, mais de uma vez na vida, e tornou conhecido. Sabe, aquela coisa do auto-conhecimento. Resolvi responder também...
A tradução é da Adília Beloti (pois é, eu gosto da coluna dela, mesmo...)

1. Qual é sua maior qualidade?

a honra

2. E seu maior defeito?

o pessimismo

3. A coisa mais importante em um homem?

o olhar

4. E em uma mulher?

a força

5. O que você mais aprecia nos seus amigos?

a sinceridade e a companhia

6. Sua atividade favorita é...

estar com os que amo, jogar rpg ou só conversar

7. Qual é sua idéia de felicidade?

Uma lua cheia, um cais, o beija flor, Koshari.

8. E o que seria a maior das tragédias?

a morte de um deles.

9. Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?

uma pedra, grande, musgosa, no meio do mato.

10.E onde gostaria de viver?

em Parati

11.Qual sua cor favorita?

preto e violeta

12.Sua flor?

rosa branca

13.Um pássaro?

esmerilhão

14.Seus autores preferidos?

Tolkien, Poe, Leeland

15.E os poetas de que mais gosta?

Florbela Espanca, Keats

16.Quem são seus heróis de ficção?

Jean Luc Picard, Beren, Ethiene Navarre

17.E as heroínas?

Lúthien, Gally (Gunm - hiperfuture vision)

18.Seu compositor favorito é...

difícil definir

19.E os artistas que você mais curte?

as ilustradoras de fadas.

20.Quem são suas heroínas na vida real?

Olga Benario, Emma Goldman, Tia Fia e Maria Odete (as duas da ELL).

21.E quem são seus heróis?

Filipe da Macedônia, e não lembro mais nenhum neste exato instante

22.Qual é sua palavra favorita?



23.O que você mais detesta?

renegar velhos amigos porque não os acha mais úteis.

24.Quais são os personagens históricos que você mais despreza?

Abraão. Hitler. Os generais latino americanos do séc. XX. Getulio Vargas (mais que quase todos os outros)

25.Quais os dons da Natureza que você gostaria de possuir?

o vôo. e o silêncio.

26.Como você gostaria de morrer?

Olhando o mar, sentada em uma pedra, vestindo uma roupa pálida, e com uma velhice que me deixasse com uma idade indefinível. Eu morreria ao por do sol.

27.Agora, já, como você está se sentindo?

um pouco vazia, ansiosa também.

28.Que defeito é mais fácil perdoar?

o vício.

29.Qual é o lema da sua vida?

"em minha alma, morreram muitos tigres.
os que ficaram, no entanto, são livres."


dedicado por Sarah Helena * 3:49 PM
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[Saturday, November 26, 2005]

e falando em coisas de fé



Cidade britânica lança maldição contra shopping



Um grupo de moradores da pequena cidade britânica de Bury St. Edmunds resolveu protestar nesta semana contra a construção de um centro comercial lançando uma maldição medieval sobre os responsáveis pelo projeto. "Os que planejam a destruição da cidade sofrerão insanidade, destruição de propriedade, extinção de sua linhagem, o ressecamento de seus líquidos vitais, doenças venéreas e morte", diz o advogado Alan Murdie, um dos organizadores do protesto.
O grupo afirma que esgotou todos os recursos legais para impedir a construção do shopping center que, segundo eles, descaracterizará o centro da cidade. "Em dezembro foi realizado um referendo e mais de 80% da população votou contra o empreendimento", diz Murdie.

Morte Súbita
"O shopping center será um monstro de concreto no meio da nossa bela cidade medieval e vai causar o fechamento de pequenas lojas."

No domingo, teve início o "amaldiçoamento" formal. Vestidos como cavaleiros e monges medievais, o grupo fez uma procissão pela cidade e lançou a maldição, da mesma forma era feito no século 11.

Outros moradores da cidade se juntaram à procissão carregando velas. Ao passar em frente à prefeitura, eles depositaram um saco com moedas de prata, simbolizando a corrupção do poder público. Ao final, o grupo realizou preces e denunciou publicamente os responsáveis. A maldição estava lançada.

Um dos responsáveis pela aprovação do projeto, o vereador Andrew Varley, havia ridicularizado publicamente a ameaça da maldição, dizendo na imprensa local que, se eles resolvessem ir em frente, ele iria invocar outra cláusula medieval que permitia queimar na fogueira os praticantes de bruxaria."Ele se esqueceu que essa é uma prática cristã, tinha o aval da Igreja", diz Murdie.

No início do mês de novembro, Varley havia dito que "deixaria Deus decidir o assunto". Ele morreu repentinamente no dia 6 de novembro.


Londres
Santo Edmundo, o santo que dá nome à cidade, foi morto no ano de 870, vítima dos invasores vikings. Desde então assumiu uma fama de vingativo.

A maldição que leva seu nome ganhou prestígio durante a idade das trevas e reza a lenda que uma de suas vítimas teria sido o rei Henrique VIII, que mandou fechar a abadia de St Edmund no ano de 1539. Ele morreu de sífilis.

O grupo auto-intitulado Cavaleiros de St. Edmund planeja realizar outra sessão de amaldiçoamento nesta quarta-feira no centro de Londres, dentro da loja de departamentos Debenhams - uma das responsáveis pelo projeto - em uma das principais ruas da cidade, a Oxford Street. A Debenhams disse que não vai comentar o assunto.


fonte : BBC Brasil


dedicado por Sarah Helena * 2:15 AM
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[Friday, November 25, 2005]

Oi beija-flor

EU queria escrever sobre fé. Mas é tão difícil... ai resolvi escrever pra você. Porque de todas as pessoas no mundo, vocÊ é o único que pode me cobrar que explique sobre isso.

Fé é uma coisa muito, muito estranha. POrque é totalmente normal e comum, mas ao mesmo tempo, é especial; é como o carrinho de churros. Que a gente sabe que ele fica andando por ai o tempo todo, mas quando passa na nossa rua, a gente corre e fica feliz, e come e se lambuza.

Sabe quando vc não consegue dormir, e eu e seu pai ficamos conversando em volta, só para vc saber que estamos ali, até que vc se sente seguro e adormece? A fé faz a mesma coisa comigo. É como saber que sempre tenho uma mãe e um pai por perto, cuidando de mim, mesmo que seus avós estejam longe. E é muito bom, porque eu sei que não preciso ter medo de nada no mundo. Que mesmo que tudo pareça muito ruim, mas ruim mesmo, se eu abrir os olhos, eles vão estar lá, como nós estamos lá para você.

Mas do mesmo jeito que as vezes você quer alguma coisa e nós dizemos não, e do mesmo jeito que as vezes estamos em outro cômodo e demoramos um pouquinho antes de chegar até seu choro, os Deuses também não fazem tudo na hora. Porque as vezes, a gente quer um brinquedo que pode nos fazer mal, e eles não vão deixar a gente brincar com ele.

E ai vai uma coisa que deixa a fé muito complicada. Quem são os Deuses?
Eles são nossos pais e mães, nossos avôs e avós. Sua avó Cecilia, deixa a fé dela sendo cuidada por um Deus só. E não é errado. E eu deixo a minha fé sendo cuidada por vários Deuses e Deusas. Sabe, é como as famílias: tem famílias que são só o pai e o filho, só a mãe e o filho, pai, mãe e filho, ou pode ter vários filhos, ou avó e neto, um monte de jeito diferente de ter uma familia, né? E nenhuma é errada, só diferente. DO mesmo jeito que cada fé pode ser cuidada por um ou um monte de Deuses, e não é errado, só diferente.

Fé é aquele coração que eu tenho com a sua foto e do seu pai. É um jeito de eu saber que nunca estou sozinha...










ps- dragões existem sim. só são um pouquinho diferentes do jeito que esta escrito no livro...


dedicado por Sarah Helena * 5:03 PM
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[Wednesday, November 16, 2005]

Já postei esse texto antes, mas quis colocar aqui de novo. Me agrada imensamente ver um texto nesse estilo que não seja piegas até o fundo do osso. E que fale coisas tão cheias de sentido...


Dez coisas que todas as mulheres sabem (mesmo sem saber)
Adília Belotti


Muitas mulheres têm me escrito desde que comecei a escrever Toques de Alma. Estes e-mails guardam dramas, histórias, emoções, e as linhas delicadas e belas são pontuadas de reflexões agudas como espelhos polidos. Nesta troca fui tecendo uma colcha de retalhos virtual feita de pedacinhos de todas nós. E é esta paisagem da alma que eu gostaria de compartilhar hoje com vocês.

1. Todas as mulheres sabem que no fundo de si mesmas moram muitas outras figuras femininas. Algumas poderosas, outras frágeis; algumas velhas, outras bem jovens. Todas adoram falar e falar, como se o mundo antes de existir, precisasse ser dito.

2. Todas as mulheres conhecem a dor e nenhuma é estranha ao sofrimento. Mas, no final, quando a noite se retira solene, carregando seu véu, a maioria de nós espreguiça e recebe o dia com generosidade renovada e a mesma velha esperança sorrindo nos lábios.

3. Todas as mulheres um dia (ou muitos) se sentiram alheias a si mesmas. E perderam-se num mar de irritação, mau-humor e impaciência. Exaustas mergulharam num Lexotan, em vários copos de vinho, num maço inteiro de cigarros, numa banheira escaldante ou no mais puro desespero. Algumas sucumbiram, só algumas. Como resultado, todas nós carregamos no coração o silêncio desta perda. E reconhecemos com reverência o poder destes abismos.

4. Todas as mulheres, mesmo as muito jovens, sabem que ser mulher é um desafio. Ou sentem isso no próprio corpo. E no mínimo desconfiam que vão passar um bocado de tempo tentando provar coisas para o mundo. Nascer mulher, em boa parte do planeta, ainda é afirmar-se acima do destino biológico e apesar das circunstâncias.

5. Todas as mulheres pensam que sabem amar. Mas o amor insiste em rir de nós. E desafia nossas desajeitadas tentativas de dominá-lo ou compreendê-lo. O amor parece um gato que só vem para o nosso colo quando nós já cansamos de chamar. Aí, a gente ri e ele ronrona sua absurda liberdade enquanto recebe nosso afago no pescoço. Mas que ninguém se iluda, mal a gente se acostuma com aquele calor macio e peludo e ele pula de volta prá vida.

6. Nenhuma mulher deseja a felicidade assim de um jeito genérico. É o encantamento que sentimos quando cumprimos nosso destino de mulher que nós buscamos acima de tudo. E isto inclui muitas coisas bobas, como vestidos novos e cores e mais cores de sapatos, e tantas outras nada bobas, como filhos rechonchudos e gracinhas e......ele. De preferência, um ele apaixonado, mas não muito, bonito, mas não muito, inteligente, mas não muito, apaixonado por crianças, mas não tanto quanto por nós, e, o toque final: que surja sempre assim com aquele jeito heróico e descabelado de quem acabou de matar um dragão, por nós.

7. Todas as mulheres têm medo. Medo do primeiro beijo, do primeiro encontro, do primeiro emprego, medo de casar, medo de não casar, medo do parto, medo da traição, medo de não conseguir, medo de envelhecer, medo de dizer sim. A cada instante, nossos medos podem nos fazer trancar os dentes, afinar o olhar e ousar o salto. Ou podem nos empurrar encolhidas para dentro de uma caixa de sapatos. Onde ficamos grudadas, olhando o mundo por um buraquinho...

8. Todas nós temos um sonho. Nem sempre é um daqueles sonhos nobres, como o de Martin Luther King, que ansiava por um mundo no qual os seres humanos fossem iguais em suas múltiplas e coloridas versões. Não, nossos sonhos muitas vezes são pequenos como um jardim ou um carinho. Engraçados: usar toda a poupança para ficar com um bumbum igual ao da beldade de plantão na TV. Românticos: um cruzeiro pela Grécia, com um grego lindo e de peito largo, absolutamente apaixonado por nós. Impossíveis: passar pela vida sem sofrer por amor.

9. Todas nós temos uma sombra. Negra e densa. Ora ela aparece como um sabotador, que mina nossas energias e desmerece nossos esforços. Ora como uma mulher dura e fria, de palavras ásperas e julgamento impiedoso. Não importa como ela venha, você vai reconhecê-la sempre: a sombra tem o seu rosto. Também é fácil reconhecer aquelas entre nós que não ousaram olhar de frente para este rosto transformado. Elas parecem árvores ressequidas e seus ramos balançam sem alegria. Quem se alimenta dos frutos murchos destas árvores experimenta seu sabor ressentido e intolerante. Eventualmente, as tempestades partem ao meio troncos tão secos. Ninguém sente muita falta delas.

10. Todas nós sentimos vez por outra uma vontade de parar de bater as asas na vidraça e aquietar a alma. Esta é a hora de construir um templo para acolher nosso ser feminino. Um lugar onde a gente possa ficar só com nossos mistérios, nossas descobertas e pescar no fundo da alma o encantamento que vai nos tornar, de novo, tão orgulhosas de nós mesmas.


dedicado por Sarah Helena * 12:28 PM
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[Friday, November 04, 2005]

Mas sempre existem asa deltas

Meus óculos quebraram. Deixo o macrocosmo e invado o perímetro que se espalha até no máximo trinta centímetros de mim. O que está longe desaparece, o que está perto ganha importancia, porque se torna tudo que enxergo. Me aproximo da tela para ler o que escrevo; me aproximo do teclado para ver as teclas. Presto atenção no que passaria desapercebido: o detalhe no botton, o esforço de aprendizado ao atravessar a rua, a memória antiga de quando não usava óculos. Sem minhas lentes, a luz do sol me fere; ando mais devagar. Quase perco a primeira aula. Sem meus óculos, sou outra pessoa. Não posso viver sem meus óculos. Mas basta ver minha foto no orkut, para ver que não aceito isso. Os óculos não fazem parte de mim, são a lembrança de minha incapacidade para algo que sonhava: voar. Graças aos meus 4 graus, nunca vou poder tirar brevê. Mas sem óculos, fico assim, tropeçando. O lado bom é este: esse micro cosmo que invado, esse olhr de perto para tudo. O detalhe me toma, me fascina. Até quando viverei de detalhes, sme meus óculos? não sei. Pelo menos até quinta feira...


dedicado por Sarah Helena * 4:22 PM
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[Saturday, October 29, 2005]

Desculpem a enormidade, mas o artigo é bom...



MANDALA é termo sânscrito: traduz-se por círculo mágico. Mas seu conceito expressa, na tradição hindu, muito mais do que as palavras que possam defini-lo.

O Aurélio aceita o termo, registra-o como substantivo feminino, e o explica como imagem do mundo e instrumento para a meditação. Em seu estado original a palavra é oxítona de gênero masculino, pronunciada abertamente: man-da-lá. Não somente designa um mantra, mas o vivifica por ser ela própria o movimento.
Mantras são sons vocálicos que, puros ou combinados, são passados dos mestres aos discípulos. Costumam ser verbalizações secretas de poder, transmitidas como fórmulas rituais particulares, usadas para fins iniciáticos; mas há mantras de domínio geral, aplicados à coletividade, especialmente devotados ao despertar psíquico, ou proferidos em prol da paz ou saúde do Planeta.

Quando escritos, os mantras assumem a forma de seu equivalente gráfico, os Iantras, figurações que tendem à simetria geométrica e que se comportam também como raízes gráficas (ditas Mula-Iantras) dos diferentes mantras e demais termos que deles se derivam. Os Iantras nada mais são que o suporte, o arcabouço linear dos mantras. Mas estão muito além do correlato conjunto de letras que se combinam para criar vocábulos nos idiomas ocidentais, já que o hinduísmo considera que as palavras tenham vida, que toda vogal seja extensão das notas musicais da voz divina. Os mantras, portanto, são a alma dos iantras, o espírito por detrás da matéria que o Verbo cria e denomina.
Curiosamente, o eco mântrico repercute e sofre desvios a provar seu movimento. Em nossa língua, por exemplo, Mandala é termo paroxítono. Os fonemas dançam a dança de Shiva e o Ocidente perpetua a vibração cósmica, repetindo-a sob nova forma, a revelar-nos uma segunda verdade: o Verbo pede complemento. Por isso, sobre o altar do paradoxo, decantado está o véu de Ísis, síntese de naturezas opostas que se completam mutuamente. Ainda que possível seja distingui-las, impossível é separá-las.

Yin e Yang dos chineses igualmente expressam este arquétipo primitivo a simbolizar a tensão primordial da vida, a mesma que Freud (1856-1939) identifica no psiquismo, conforme sua teoria das pulsões, em cujo cerne está a antinomia arcaica, a disputa entre os instintos de vida e de morte. Certamente, o pai da psicanálise era amante das idéias de Empédocles (séc. V a.C.) para quem o Universo era resultado do conflito entre Amor e Luta, que permanentemente gera tensão, a mesma que precisamos impor ao arco para atirar a flecha em seu certeiro movimento parabólico.
Representações mandálicas são sublimes; suas formas representam a combinação perfeita entre os mantras e seus respectivos iantras. No tantrismo, prestam-se à meditação; comumente as vemos pintadas ou riscadas no chão, feitas de sementes ou grãos de areia, usadas para delimitar locais sagrados, como o altar dos templos, ou áreas destinadas a procedimentos ritualísticos específicos.
Assim como o fogo, as mandalas têm ainda a propriedade de nos prender a atenção, de nos convidar à introspecção, à percepção de seus aspectos, de seu arranjo harmônico que se distribui num quatérnio espacial.

Tal como a água, deleitam-nos a ponto de nos fazer tranqüilos, propiciando à mente que se distancie dos problemas imediatos, induzindo-a ao exercício da contemplação. Efeito semelhante ocorre quando observamos peixes num aquário em seu vai-vem constante, em sua dança circular que nos acalma.
Mandalas são, portanto, todas as formas que nos permitem penetrar no jogo das vibrações que constituem o Universo. São portas quânticas para outros níveis de consciência, verdadeiras bases de lançamento de nossas naves Enterprises, no seio das quais viajamos a lugares onde nenhum homem jamais esteve.
As mandalas selam o sacramento de nossa união com o Cosmos. São veículos para o religamento de nossa consciência com a fonte absoluta de onde provimos. Na tradição tibetana, são guias imaginários e provisórios da alma; orientam-nos em nossa prática meditativa e transmitem o equilíbrio com que se distribui a essência divina, cuja ubiqüidade jamais permite que a capturemos em nossas mãos. Concordante é o pensamento do filósofo medieval Nicolau de Cusa (1400-1464): "Deus é uma esfera cujo centro está por toda parte embora suas circunferências não O delimitem em parte alguma".
O círculo é o terceiro dos quatro símbolos fundamentais. Comecemos pelo ponto, virtualidade sem a qual o mundo inteiro não estaria manifesto; de sua natureza se estende a cruz, segundo elemento que, ao girar sobre si mesma, produz o círculo. Este, por ser perfeito, sem começo, meio ou fim, diz respeito ao mundo divino, ou à imagem de Deus quando quer que O representemos pelo Oroboro, ou a cobra que morde o próprio rabo, a simbolizar a vida que, perenemente, se devora e se transforma. Do círculo divino, forma absoluta, fechada em si, emana o quadrado, o quarto dos símbolos primordiais, a representar a Terra e todas as criaturas.

Ancorado sobre seus 4 lados, o quadrado tende à estabilidade, contrastando com o dinamismo da roda ou do círculo, que é puro movimento. Em oposição ao céu, o quadrado designa o plano terreno em que se manifestam todas as coisas criadas. Altares e templos comumente são quadrangulares ou retangulares, e sob estas formas também se organizavam as cidades antigas, bem como as fortalezas e os acampamentos militares. No campo das religiões, observemos a Ka’aba de Meca, templo máximo do islamismo maometano, verdadeira pedra cúbica a significar a divindade dando fundamento a toda a humanidade, ao mesmo tempo que sustenta, feito pilar supremo, a abóbada celeste, outra representação da morada de Deus. Ademais, em época anterior ao Islã, Meca era chamada por Umm-al-Qura, ou Mãe das Cidades (Corão, 6, 92 e 42,5), sendo considerada, tal qual o Templo apolíneo de Delphos, o Umbigo do Mundo.

Em outros casos, é o círculo que delimita lugares consagrados ao divino, como por exemplo o enigmático templo rochoso de Stonehenge, construído entre 2600-1700a.C. a partir de conhecimentos astronômicos de espantosa precisão. Curiosamente, a palavra inglesa usada para designar Igreja, church, provém do escocês antigo kirk, que além de "templo", significa "círculo".

Na verdade, toda forma circular, quadrangular ou qualquer outra que insinue a presença de um centro em torno do qual todo um complexo se organiza, pode ser tida como uma forma mandálica. Não foge à regra a Távola do Rei Arthur, circular e orientada em torno do Graal, símbolo do ideal comum de integração e transcendência.
Mandalas podem ser consideradas sagradas por tudo isso. Ao sintetizarem os conceitos de Mantra e Iantra em todas as suas possíveis combinações, revelam, por imagens que nunca se repetem, a infinita variedade do potencial divino. Quando quer que meditemos incursos na harmonia de seus desenhos, mais prontamente nos alçamos em espiral, projetando-nos em torno do rabo da serpente e nas asas da espiritualidade.
A tradição alquímica propõe que os filósofos, mediante a Pedra Filosofal, ou por meio do Elixir da Longa Vida, atinjam o fulcro do derradeiro mistério oculto na quadratura do círculo. Metaforicamente, "quadrar" o círculo é fazer caber no plano humano (o quadrado) toda a dimensão divina (o círculo).

Muito antes dos alquimistas medievais terem nascido, os Pitagóricos (séc. VI a.C.), herdeiros dos ritos órficos, viam na Tetrakys, ou Tétrade Sagrada, a base de sua doutrina que faz do 10 um número perfeito, resultado da soma do quatérnio básico (1+2+3+4=10) do qual emana toda e qualquer forma vivente. "O Universo é número", dizia o Mestre, que valorizava o 4 como alicerce da vida, e o 3 como a própria divindade. De seu produto (3X4) obtinha-se o número que revelava a totalidade deste acerto entre homens e deus: 12 é o número do Todo.
Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra suíço, idealizador da "Psicologia Analítica", viu nas mandalas o melhor dos exemplos figurativos daquilo que ocorre em toda a dinâmica psíquica, cuja essência última resta sempre incapturável.

Inspirado na citada máxima de Nicolau de Cusa, Jung chamou de Selbst o centro organizador da psique, espécie de núcleo atômico psíquico. Traduzido para o inglês por Self, o termo encontra em Português expressão que muito melhor o representa, o Si Mesmo. A rigor, na psicologia junguiana, tal instância é o ponto central de todo o psiquismo, mas também sua esfera inteira, a abranger o mundo inconsciente bem como o consciente. O ego aqui é mero centro funcional de nossa consciência, a mesma que nos permite dar conta de nossa individualidade.
Como todo arquétipo, o si mesmo é essencialmente incognoscível. Dele sabemos apenas empiricamente e por vias indiretas. São nossos sonhos que nos contam de sua existência, e o percebemos nos mitos e contos de fada sempre disfarçado por detrás dos símbolos da totalidade, como o são, dentre outros, o círculo, a cruz e o quadrado; ou por meio de contrastes que expressem a coniunctio opositorum, isto é, a União dos Opostos que também se complementam, como é o caso do dia e da noite, do bem e do mal, Yang e Yin.
Às vezes, o si mesmo se esconde por detrás de personagens que dinamicamente se encarregam de desenvolver toda uma trama dialética, como ocorre com as duplas Fausto e Mefistófeles, Dom Quixote e Sancho Pança, Peter Pan e o Capitão Gancho, etc... Em outras ocasiões, o si mesmo está no personagem axial desses enredos mágicos, quer na figura de um rei, de um profeta, ou projetado sobre um avatar ou mesmo num herói qualquer que, enredado em sua missão lendária, busca vencer obstáculos intransponíveis pelos seres comuns, mediante o que ele reorganiza e salva o mundo onde vive seu drama. Citemos os 12 Trabalhos de Héracles; neste mito grego arcaico, o herói resgata a totalidade do arquétipo ao completar o último dos trabalhos, com o que transcende sua natureza humana, recolocando-se junto dos imortais. O 12, para Pitágoras, assim como o 4, melhor expressam a idéia de inteireza. Haja vista serem 12 os signos do zodíaco, os meses do ano, o número dos apóstolos do Cristo, as notas musicais (tons e semitons), as horas do dia e da noite, os deuses do Olimpo (seis masculinos e seis femininos) etc... O 4, da mesma forma revela a totalidade; são 4 as estações do ano, os elementos da natureza (água, fogo, terra e ar), os pontos cardeais etc... Também o 8, eqüidistante entre 4 e 12, é número mandálico, e reforça a idéia de justa proporção. As mandalas expressam a plenitude também pelas subdivisões de seu espaço interno que respeitam o quatérnio fundamental por meio de seus múltiplos. Mandalas orientais, entretanto, muitas vezes subdividem-se em 64 partes (8X8), que é o total de hexagramas do I Ching, ou mesmo em 81 partes, resultado da multiplicação do 9 por si mesmo, número perfeito para os taoístas, por sua vez produto de 3X3. Os chineses, milenarmente, entendem que o 1 seja o céu, 2 a terra, e 3 o homem; a partir do que todas as dez mil coisas são geradas. Não é por acaso que o Tao Te King, livro sagrado taoísta, acha-se subdividido em 81 aforismos, a fazer do texto propriamente uma mandala aberta para ser lida e aplicada à vida.

Através dos séculos, a humanidade sempre se mostrou mais ou menos consciente acerca da existência do si mesmo. Entre os egípcios há o conceito Ba como instância além da alma comum, correspondente ao daimon dos gregos, aspecto que Sócrates admitia aconselhá-lo sempre, em suas horas mais difíceis. Em sociedades e culturas primitivas, a idéia está incutida ora num espírito protetor da natureza, ora sobre a imagem de algum animal, ou num sábio antepassado cuja função, depois de morto, é a de orientar sua tribo.

Segundo Jung, há duas razões principais pelas quais podemos perder contato com o si mesmo que nos regula e nos tempera, o que compromete a distribuição homogênea e espontânea da energia anímica por toda a mandala de um psiquismo saudável.
O primeiro obstáculo surge sempre que nos vemos tomados por impulsos instintivos emocionalmente fortes, que nos levam a reagir visceralmente. Até os animais comportam-se assim, quando, por exemplo, excitados sexualmente, esquecem-se até da fome, ou descuidam-se de suas defesas, em detrimento da conduta habitualmente tomada para sua segurança. São inúmeros os povos indígenas em que situações de perturbação mental, associadas ou não às doenças físicas, são interpretadas pelos xamãs como um quadro de "perda da alma"; nada mais, segundo a psicologia analítica, que o resultado da unilateralidade do funcionamento psíquico, capaz de condensar demasiada energia em torno deste ou daquele aspecto num processo neurótico e gerador de complexos.

O segundo empecilho é propriamente uma condição oposta à primeira; advém da cristalização excessiva do ego que adora se prender ao mundo da realidade objetiva e esquecer-se de todo o resto, dificultando a percepção dos estímulos inconscientes provenientes do centro psíquico interior. Claro, precisamos de um ego conscientemente voltado às tarefas habituais da vida, mas que seja bem disciplinado, que nos leve às realizações pessoais sem cair no abismo de julgar que só a realidade objetiva possa locupletar as necessidades da alma. Por esta razão, muitas vezes acordamos ungidos pela benção de certos sonhos significativos, cuja função é a de restaurar a receptividade cotidianamente perdida, e restabelecer o diálogo necessário entre a consciência e o mundo psíquico mais profundo. Sempre que nos privamos prolongadamente deste intercâmbio entre o ego e o Si Mesmo, ainda que não o percebamos, adoecemos; e o surgimento de sintomas neuróticos ou psicóticos, mesmo doenças orgânicas das mais simples às incuráveis, passa a ser mera questão de tempo.
Jung elegeu a mandala por excelência adequada para simbolizar o psiquismo; isto porque nas representações mitológicas do Si Mesmo está presente, quase sem exceções, a estrutura quaternária como arcabouço nuclear da alma. Mandalas multiplicam-se pelo mundo. Todas os povos do Planeta, por todas as épocas e lugares, expressam-nas em sua arte, bem como nos enredos de seus mitos.

No Oriente, mandalas são usadas para recompor o ego diante da majestade do Eu interior. A contemplação destas imagens homogêneas, organizadas em torno de um centro, por analogia tende a facilitar a emergência de processos inconscientes, capazes de permear de paz interior a mente que deseja vislumbrar a ordem subjacente no Cosmos, ou que queira abstrair da contemplação algum significado para a existência ou para o milagre da vida.
Nas paisagens de nossos sonhos, nas visões proféticas, nos contos de fadas, a estrutura mandálica está sempre presente. Há exemplos por toda a parte. Nossa Via Láctea, galáxia espiralada com dois braços que se evolvem a partir de um núcleo, é uma assombrosa mandala. O Sistema Solar é núcleo da mandala que o circunda de Planetas; de mesmo modo, életrons viajam a 960 km/s "presos" a uma esfera mandálica imaginária atômica. Nossos olhos, globos mandálicos, enxergam o mundo por uma lente mandálica cristalina ovalada, coberta pela colorida e radiada mandala da íris. O Planeta, aparentemente esférico, é mandala que orbita. O cérebro, composto por dois hemisférios mandálicos, com partes anterior e posterior, mantém o padrão. O mesmo podemos dizer do coração humano, palácio da alma descrito em quatro câmaras. Os pássaros costumam fazer ninhos circulares, e as aranhas tecem mandalas de extraordinário requinte nos cantos das cavernas.

Mandalas estão abundantemente representadas no Ocidente principalmente desde a Idade Média, e as rosáceas dos vitrais das Catedrais de Chartres e Notredame são mandalas translúcidas inspiradoras da paz interior que deve estar presente nos campos religiosos da mente. Aliás, todas as cruzes, religiosas ou não, incluindo a suástica, são mandalas; a Estrela de Davi com seis pontas idem, reforçando o mistério do cruzamento divino e humano pelo entrelaçado de seus dois triângulos equiláteros. Os tabuleiros dos milenares jogos esotéricos, xadrez, go, damas, gamão, etc.. são espaços mandálicos sobre os quais se reproduz o simulacro da dança da vida. Cartas de baralho são igualmente mandalas; no Tarô, acha-se delineada em todos os arcanos, ressaltada nos maiores, principalmente no Mago, na Justiça, na Roda da Vida, no Enforcado, na Temperança, na Estrela (onde pela primeira vez surgem juntos os 4 elementos), no Julgamento e no Mundo. Na abóbada celeste, projetamos a mandala zodiacal. Nos mitos, as mandalas do destino humano. Um deles, o de Hermes, conta-nos que em torno de seu caduceu estão duas serpentes abraçadas, uma com função psicopômpica, a de acompanhar as almas em sua viagem ao Reino de Hades, mundo dos mortos; a outra com função psicagógica, a de reconduzir as almas mortas à luz da vida, quando devem renascer. Mandalas fazem isto: propiciam iluminação às mentes que diante delas silenciam e a partir da pacificação dos indivíduos comuns, proporcionam paz ao mundo, tão carente desta dádiva.

Paulo Urban é médico psiquiatra, psicoterapeuta do Encantamento e acupunturista


dedicado por Sarah Helena * 12:21 PM
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[Friday, October 28, 2005]

passei das mil visitas, e nem percebi...


dedicado por Sarah Helena * 2:35 AM
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Listas


Comprar
um chinelo de palha
descongestionante nasal
bepantol (pq o beija flor não tem assaduras, mas é graças a ela tbm)
um pano bem bonito azul pombinho (adoro essa definição, "azul pombinho")

Fazer
uma busca por coisas a base de leite de soja
ligar para a cabelereira e marcar hora (sinto tanta vontade de cortar o cabelo channel... mas sei que não vou fazer)
me tornar responsável com minha alimentação
tomar café da manhã
jogar fora o resto de maço de cigarro (difícil, mesmo sem fumar ele me trás segurança)

Desvendar
o mistério dos programas de edição de imagem
a maneira como o telhado da capela se sustenta
como fazer para não enlouquecer

Olhar
como o beija flor é lindo
como koshari é sensual
como os dois juntos me fazem pensar em caramelo e licor de jabuticaba
e essas coisas que me deliciam


dedicado por Sarah Helena * 2:16 AM
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[Thursday, October 27, 2005]

Meu yakissoba

2 miojos sabor legumes
uma cenoura do tamanho do seu gosto por cenouras
meia cebola (se vc gostar)
uma coisa verde (repolho, acelga, couve flor, sei lá, o que vc achar na geladeira)
shoyu
alho
se gostar de carne, um bife beeeem macio.
um pouco de óleo (se puder, de gergelim)
tahine (molho de gergelim)
pimenta do reino


Cozinhe o macarrão até ficar macio. Isso não significa necessariamente 3 minutos, podem ser 5. Mas ai você escorre e deixa esperando. Não coloque os temperos. Guarde eles por enquanto. Trasforme todos os vegetais e a eventual carne em pedacinhos do tamanho que vocÊ consegue pegar com os palitinhos: nem grande nem pequeno. Coloque o óleo na panela, acenda o fogo, coloque o alho, depois a cebola, a cenoura, e todo o resto. Se for colocar carne, coloque antes da cenoura. Depois de um pouquinho, coloque shoyu, e uma mão cheia de água. Tampe para o vapor cozinhar um pouco. Quando começar a ficar macio (se precisar, coloque mais água, mas a medida é sempre a mão cheia), coloque o tahine, a pimenta do reino, e mexa bem direitinho para espalhar o ardido. Coloque um pouco mais de shoyu e o tempero em pó dos miojos.

Abaixe o fogo e vá misturando o macarrão, para ficar bem temperado e misturado.

Agora, se vc gosta daquele molho grosso gostoso, que só Gaia sabe a receita, eu inventei um assim: um pouco de água, um tempero dos miojos sabor legumes (acho que um caldo de legumes tbm funciona), uma colher de chá de maizena, e shoyu até pegar a cor certa. Se ainda estiver ralo, mais uma colher de chá de maizena. Mas mistura gota por gota do caldo na maizena para não empelotar...


Fica bom, esse yakissoba. E é bem mais saudável que um miojo...


dedicado por Sarah Helena * 9:30 PM
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[Thursday, October 13, 2005]

só um punhado de pensamentos


A tarde está muito quente. O inverno se despede e o calor chega. A umidade mudou: é como se fosse superficial e morna, agora. A certa altura da tarde, chega a ser difícil respirar, mas logo o vento muda. O céu se torna mais colorido, porque a noite cai mais devagar.

Estou no trabalho agora. Sem alunos, passei a tarde entre a sala de informática e a sala dos professores. Me queimei com café, as pontas de meus dedos estão doloridas. O som dos carros lá fora é tudo que me leva de volta para a realidade.

Planejo pequenas bobagens e penso em como vai ser a vida em minha casa. Onde colocar os sinos de vento, onde pendurar os encantos chineses que me protegem, onde cristais e prismas. Onde deixar a parede azul clarinha nua, e onde colocar prateleiras. Como abrigar meus livros, como tornar tudo lá aconchegante e meu. Nosso, aliás.

Preciso ainda conseguir o oratório onde porei uma imagem abençoando a casa. E vou comprar uma imagem, ou tomar a suprema coragem de esculpi-la?

Preciso pensar as paredes e a iluminação da minha "capelinha". O antigo viveiro de pássaros onde farei o altar, guardarei os instrumentos, prepararei o fogo (um lugar perfeito para haver fogo de verdade, não uma pequena chama apenas...). O dinheiro contado e a imaginação imensa.

Sou muito jovem e não sei quase nada. Passei tantos anos pesquisando e a insegurança não diminuiu em nada. Será que dessa vez vai?

Penso na parede do futuro quarto do André, na pintura do seu guarda roupa, nos desejos que vai conter. Meus móveis se acumulam na garagem, enquanto a casa toma forma, janelas, piso, portas.

O sol tem deixado tudo muito quente, e as flores teimosas que floresceram todo o caminho entre Mauá e Santo André são miosótis. Não se importaram com o inverno que se despedia, e debaixo do frio e da chuva azularam todo o caminho. E mesmo que as pessoas não se dessem conta, prestavam atenção. E agora os lírios e palmas as acompanham. E azaléas. A pitangueira do jardim está carregada de flores brancas. E o pé de uvaia também, elas chovem no vento como flores de pêssego e cereja.

A hora se escoa lenta, e meu estômago quase sente de fome. Muito café hoje, e pouca coisa além disso. Gosto dessa sensação do estômago vazio sem incomodar, porque me trás uma memória de força de vontade, de ser capaz de algum pequeno auto sacrifício.

Desejei um cigarro todo o dia e não fumei. Penso se recebi resposta para o email que mandei. Procuro o Koshari no ICQ, mas ele deve estar cuidando do pequeno, ou adormecido.

Koshari. Finalmente encontrei uma palavra que é doce o suficiente e parecida o suficiente com ele. Não, não a comida árabe. Mas a palavra Hopi equivalente ao Heyokah dos sioux.

Nem sempre entendo Koshari, porque tenho muito a aprender com ele. Levo tudo a sério demais, e ele brinca daquilo que deveria ser brincado. Fui agressiva com ele hoje, e ele retribuiu com abraços. Devia dar mais ouvidos a suas palavras. Apesar de acusações contrárias, acho que sou dura demais com ele, como se tivesse medo de concordar com um homem.

Eta maldita educação machista contra a qual tenho que lutar, e que diz que mulher livre sempre é grossa e independente dos homens...eta brabeza de bicho acuado que teima em me agarrar, com a sensação de ser agredida o tempo todo.

O céu está laranja e mais carros passam pela rua. Logo dá a hora de ir embora. Vou postar esse punhado de pensamentos desconexos que se intrometem em minha pesquisa na internet. Ir pra casa, beijar meu beija-flor e meu palhaço xamã, ver minha avó que amo e odeio, comprar cachaça para aprender, com ela, a fazer licor.

Quem sabe um dia, a descendência nos una em amor.


dedicado por Sarah Helena * 5:12 PM
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[Friday, September 30, 2005]

Biscoito da sorte virtual (rsrs)
(mas muito útil a mensagem,rs)


Nenhum problema é tão formidável a
ponto de ser impossível de abandoná-lo.


dedicado por Sarah Helena * 5:21 PM
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Tribos de Gaia

para começar este post, fica o link de uma página realmente ótima sobre paganismo, porque lá, pessoas diferentes colocam suas visões pessoais dos caminhos delas. Tem sido muito legal acompanhar a página, pelo site e pela comunidade do orkut. Agora que finalmente consertei o meu id do yahoo, pretendo entrar na lista também...

O Orkut tem sido ótimo para mim nessa minha retomada do meu caminho. Porque me coloca em contato com uma pancada de gente realmente ótima, que faz bem para mim. é boa a sensação de que não se está sozinha, que pelo contrário, as coisas que sente fazem parte de algo muito maior, mesmo sendo únicas.

Quando comparo o dia de hoje com o início do blog, e o início do blog anterior, o Buscas original, fico boba com as mudanças. Eu era muito diferente na minha visão do caminho. Eu tinha 17 anos e o orgulho que só alguém no fim da adolescência consegue ter. Tinha uma auto consciência invejável, e nenhum auto controle. Minha disciplina se resumia a fazer meus exercícios de meditação regularmente e cumprir todas as obrigações rituais que me auto impunha. Mas meu Cd de Mantras eu perdi na minha própria sala e nunca mais achei, e eu nunca fui capaz de manter um registro decente no meu livro das sombras. Aliás, eu ainda não terminei de passar o material sobre as runas lá. (quantas vezes comecei a fazer isso?)

Naquela época eu acreditava totalmente em auto iniciação (hoje tenho ressalvas), e me achava a bruxa da cocada preta. O que foi muito bom, porque me deu um ânimo imenso e no meio dos tropeços aprendi muito. Meu altar hoje em dia pode ser mais prático, mas é muito menos bonito... e eu era eficiente, isso era. Fazia feitiços para mim (poucos) e para os outros. E funcionava. Lia o tarô, e tinha insights incríveis. Eu lia a sorte nas nuvens as vezes. E conseguia contato muito mais regular com todos que me guiam. Ai eu cai de cabeça no mundo que tentam nos fazer acreditar que é o real. Passei por uma provação, sim. Mas fui muito tonta e não entendi o sentido dela. Perdi minha auto confiança.

Não foi difícil decidir voltar. Nunca me afastei do caminho, só andei a passos de tartaruga. Como boa libriana que sou, acabei me alimentando de companhia: fui indo meio barco só indo na correnteza. Agora, estou içando velas: consigo ir mais adiante e com mais força, porque recuperei a auto estima, e entendi uma coisa ou duas daquilo que a Senhora colocou no meu caminho.

Sou uma bruxa. E isso nada no mundo pode mudar.

Passei um bom tempo odiando aquilo que já fui um dia. Mas agora estou em outra fase: não nego meus erros, mas começo a perceber que eles foram necessários para eu chegar onde estou hoje, para tentar acertar. Faz parte da minha história, não vale a pena ficar me xingando e pensando como fui burra. Me sinto feliz em ver como tem ficado o atual rumo das coisas. Mudar faz bem pra gente...


dedicado por Sarah Helena * 5:05 PM
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[Friday, September 16, 2005]


Hoje minha sogra leu o Tarot para mim. Fazia muito tempo que ninguém fazia isso; valeu pelo puxão de orelha, pelas esperanças, por tantas resoluções. Compreendi o que significa uma carta que sempre caia e eu não sabia o que dizia. Fiz desejos. Tomei consciência.

O Tarot é uma coisa genial. Cartas repletas de símbolos, veículos para resolver dúvidas, e, principalmente, para aconselhar. Bom saber que se pode contar com as artes divinatórias. Tomei café. Café é bom.

Quase tão bom o café da minha sogra quanto seu jeito de ler as cartas...


dedicado por Sarah Helena * 7:53 PM
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[Wednesday, September 14, 2005]

Jorge da Capadócia


Jorge Benjor

Jorge sentou praça
na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também
sou da sua companhia

Eu estou vestido com as roupas
e as armas de Jorge.
Para que meus inimigos tenham pés
e não me alcancem.
Para que meus inimigos tenham mãos
e não me toquem.
Para que meus inimigos tenham olhos
e não me vejam.
E nem mesmo um pensamento eles possam ter
para me fazerem mal

Armas de fogo
meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
sem o meu corpo tocar.
Cordas e correntes arrebentem
sem o meu corpo amarrar.

Pois eu estou vestido com as roupas
e as armas de Jorge

Jorge é de Capadócia
Salve jorge!
Salve jorge!

Jorge é de Capadócia
Salve jorge!
Salve jorge!


dedicado por Sarah Helena * 2:21 AM
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[Sunday, September 11, 2005]

Feliz e infelizmente, as coisas tem começo, meio e fim. Porque se não houvesse fim, o mundo ficaria sobrecarregado, e nada novo poderia nascer.

Nunca gostei dessa lição. Gosto das cidades tombadas pelo patrimônio histórico, pela sensação de eternidade. Mas mesmo assim, lá vem o Katrina, e New Orleans, a cidade histórica americana que eu mais desejava conhecer, é varrida pela água. Virou memória.

Quando era criança, uma das minhas respostas sobre o que seria quando crescesse era Alquimista. Porque eu daria o Elixir da Longa Vida para todo mundo, e ninguém mais envelheceria e morreria. Até minha avó morrer, e eu decidir que não valeria viver eternamente sem ela. Foi meu primeiro flerte com a morte, sem saber. Quando desisti da imortalidade, desejei o reencontro que viria através do meu próprio fim. Mas isso também não era o certo: vi tantos fins que desejei o meu de todo modo. Mas o desejo não é o que se deve sentir em relação aos fins.

O fim de algo deve ser tratado com aceitação. O fim de uma fase da vida, de uma viagem, de um objeto, de uma amizade, não deveria ser algo horrível. Mas de tanto lutar para evitar o fim, as pessoas o tornam nefasto.

Sinto isso na pele. Minha vida passou por muitas mudanças nos últimos quatro anos. Eu cresci muito. Não sou outra pessoa, não mudei de personalidade, como alguns desejam acreditar. Mas amadureci, me tornei “adulta” seja o que for que isso signifique. E as amizades que antes estavam presentes, não puderam aceitar o fim de uma fase minha e o início de outra. E por não poderem aceitar, brigaram, feriram, me negaram. Fingiram que todos os anos que dediquei a eles se apagassem.

Não sou uma alma avançada e luminosa, sou só uma mulher muito falha que encontrou abrigo nas sombras da Senhora, e que se sente confortável seguindo essa trilha. Então, permiti que isso me magoasse muito. Consigo enxergar o motivo, os traumas que eles refletiram em mim, a dificuldade em me aceitar grávida, com um companheiro. Mas não muda o quanto me machuca, a raiva e a tristeza que sinto.

Mas sou muito mais Perséfone e Hécate, sempre. Sou da sombra, sou aquela que andou no limiar, e conheceu a morte a ponto de se apaixonar. Aceitar o fim das coisas faz parte daquilo que vim aprender, porque é parte da minha alma. Então, devagar, vou levando adiante essa consicência: para surgir coisa nova, o velho tem que ficar para trás.

O Rei está morto; Longa vida ao Rei.

Tenho novos amigos, novas vivências, novas visões. Aqueles que não mudaram comigo, seguiram seu próprio caminho. E eu, fico livre para seguir o meu, sem prestar contas ou sentir medos. Angústias, sim.

Mas não se pode deter o curso do tempo. Ou você deixa as coisas partirem, ou vem um Katrina derrubar as coisas por você.


dedicado por Sarah Helena * 11:02 PM
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Repouso


Basta o profundo ser
em que a rosa descansa.

Inúteis o perfume
e a cor: apenas signos
de uma presença oculta
inútil mesmo a forma
claro espelho da essência

inútil mesmo a rosa.

Basta o ser. O escuro
mistério vivo, poço
em que a lâmpada é pura
e humilde o esplendor
das mais cálidas flores.

Na rosa basta o ser:
nele tudo descansa.



Orides Fontela


dedicado por Sarah Helena * 2:34 AM
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[Tuesday, September 06, 2005]

Conheci Santa Sarah Kali pelo Zeca, o mais maravilhoso homem que alguém poderia desejar como chefe. Ou talvez não. Mas amei ele da primeira vez que o vi, e desejei que ele fosse da família. Acho que o afastamento da EMIA me trouxe como maior tristeza não poder mais ver sempre o Zeca e o Dudu...

Mas foi ele, que quase por acaso, apareceu no dia dela lá no Pig me dando os parabéns. "Parabéns pelo dia da sua santa."

Eu sentei na frente do computador na hora do almoço, e vasculhei tudo que pude sobre santa Sarah Kali. As histórias variam: já ouvi que ela foi parteira de Jesus Cristo, mas normalmente ela é a serva de Maria Madalena. Estavam elas e mais uns santos em uma cidade, e foram largados no mar para morrer de fome e sede. Sarah pediu a intercessão de Cristo, e por suas magias, foram salvos, chegando na cidade de Saintes-Maries-de-La-Mer onde seus ossos descansam hoje.

Ao que parece, ela era cigana, por isso é padroeira deles. Mas de repente, tinha uma Sarah muito mais agradável para mim, do que a hierática Sarah mãe dos judeus. Amei Santa Sarah Kali desde então. Hoje, olhando diferentes tarots, encontrei um cigano, onde a Papisa é representada por ela. Achei genial. Fui olhar o que lembrava dela, joguei seu nome no Google. E imagine minha surpresa, que descobri que o dia dela é 24 de maio. Dia em que o André nasceu. E ainda mais interessante, ela é aquela a que as ciganas recorrem quando querem ter filhos...

Pois é. Meu men ino nasceu sob uma boa estrela... e a definitiva proteção de Sarah, a Negra.


dedicado por Sarah Helena * 4:57 PM
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[Friday, July 22, 2005]

o homem em minha cama
tem o ar de uma manhã de inverno
sensatez de trickster
partilhou de si mesmo comigo e me fez amar outro
pelo fato único de ser parte dele

o homem em minha cama
é sombrio e doce
como alcaçuz
sensual como o som da palavra alcaçuz
carta de tarot.

brandon brandon

o mistério do lado esquerdo
o nono signo
sombra e espelho
doçura e vingança

o homem em minha cama
arrancou de mim o meu melhor
e comeu com açúcar
na mesa do café.



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eu mesma


dedicado por Sarah Helena * 3:49 AM
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[Monday, July 11, 2005]




Pois é. Existem coisas que nos ligam mais ainda à Mãe do quesimplesmente ter um filho.

Fico chocada de saber que só 6% das crianças ainda estão sendo exclusivamente alimentadas com leite materno no segundo mês de vida. E existem um monte de motivos para isso. Nossa sociedade vê amamentar como um estorvo. Muita gente te desacredita quanto você opta por amamentar. Além da dor que não é pouca.

Semana passada, a pediatra pesou o André errado de propósito. Pode parecer loucura, mas ela fez um menino de quatro quilos pesar tres quilos e oitocentas. Pq isso significaria que ele não ganhou nenhum peso em um mês e eu deveria dar complemento à amamentação. Tudo pelo preconceito. Eu estava miseravelmente passando mal, com quarenta de febre, e minha mãe entrou no consultório carregando o bebê. Eu estava rouca, então pedi para ela começar falando, explicando que eu estava passando mal. Mas a idiota da pediatra achou que eu tivesse quinze anos e não fosse uma boa mãe por isso. Ela julgou e condenou. Não fez exame nenhum nele, mal escutou seu peito, não olhou umbigo, não pediu perímetro cefálico, nada. Só disse que ele estava abaixo do peso (ela mal tocou a balança com ele) e que se em uma semana ele não recuperasse esse peso, eu ia dar NAN para ele. Ah tá. Claro. Saimos de lá e fomos pesar o bebê, nú, igual ela fez. Em três balanças, a mesma resposta: quatro quilos, quatro quilos e pouco.

Mas ela achou que eu não fosse capaz de amamentar direito. E é isso que acontece com um monte de gente. Sem contar ter que ouvir coisas absurdas, uma menina contando que estava no shopping, amamentando na praça de alimentação enquanto comia e uma mulher disse que amamentar era "coisa de pobre". A outra ouviu do pediatra que se ela quisesse ele podia receitar ótimos substitutos para o leite. E as que não amamentam por questões estéticas, esquecendo que amanetar evita o câncer de mama...

Não é fácil. Mas se vc já teve um parto, cuida de um bebê, nada é impossível.

Vou fazer tudo que puder para amamentar pelo menos dois anos. E exclusivamente nos primeiros seis meses. Não tenho mamadeiras nem chucas, e pretendo continuar assim mesmo depois que ele não mamar só no peito. Vale a pena.

Enquanto isso, sinto minha força cada vez maior, amamentando. Como se ao dar alimento através de mim, não como antes, involutariamente, mas de modo voluntário e consciente, eu me tornasse mais poderosa. Tenho orgulho disso.

Orgulho dos meus seios cheios de leite, como os de uma mãe primordial.


dedicado por Sarah Helena * 12:36 AM
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[Thursday, June 16, 2005]

Certas bobagens do dia a dia nos atingem feito raios. Faz tempo que parei de fumar. Fez um ano sem que eu percebesse, agora já é quase um ano e meio. Continuo me sentindo fumante, trago o ar como se fosse fumaça, e certos assuntos me fazem procurar um maço inexistente. Como a conversa de hoje pelo ICQ, sobre tempo e distância.

Sabe como é, cigarro é coisa de gente solitária.

Estamos falando de tempo e distância. Lembrei da época em que eu conseguia pegar as mensagens do mundo para mim até nas manchetes do jornal (como é bom ter 16 anos e a certeza de que sabe o que faz), e eu tinha um livro, Longe é um lugar que não existe.

O cara viaja nos pensamentos dos pássaros, e eles ensinam coisas para ele.

e ele começa a ter essa sacada: se vc gosta de alguém, ela já não está perto de você? Se alguém já existia antes de nascer, então o que significa a idade?

Quando li pela primeira vez, era criança ainda, e fez muito sentido. Quando li pela sei lá, milionésima vez, aos 16, me senti como o próprio cara do livro.

Até criei uma personagem com o nome da menina do livro. Rae.

Engraçado como as vezes o passado parece mais perto do que ontem, e alguém que está perto parece tão longe.

Não consegui ainda falar com todo o povo da faculdade sobre o nascimento do André. E eles estão aquido lado. Mas meus amigos da internet, mesmo morando longe, sabem os detalhes da minha escolha.

E fiquei um pouco triste também, porque meinha turma de séculos não é capaz de entender essas escolhas. e por bobagens falam de mim pelas costas.

Engraçado como distância é relativo. Ciúmes e raiva podem deixar alguém que já foi tão próximo alguém tão distante.

Ao mesmo tempo, a necessidade nos faz próximos.

Como são estranhos os caminhos da Deusa...


dedicado por Sarah Helena * 2:19 AM
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[Wednesday, June 15, 2005]

retomando o blog... depois de tanto tempo... foi mal pelas letras de tamanho bizarro no outro post, mas o blog se voltou contra mim.

Mas retomo o blog depois de tanta coisa. Fiz um post para por no orkut, sobre o nascimento do André. Lá, falei sobre muitas coisas, mas não falei tanto quanto gostaria da experiência religiosa que é ter um filho fora do esquema convencional. Podendo sentir o poder através de mim, podendo ter a intensidade de ser atuante no meu parto, não mero objeto nas mãos de médicos.

Compreendi porque tantas mulheres dizem não conseguir lembrar da dor do parto. Elas tentam racionalizar algo que não pode ser visto de modo racional, porque lida com o sub consciente, com o transe, com o irracional, e isso não é ruim.

Tive uma percepção louca dos caminhos que trilhei até hoje, sobre essa sombra sempre ao meu lado, sobre o que a Senhora a quem me dediquei espera de mim.

Vou voltar para o blog de novo. Quem sabe desta vez consigo continuar.


dedicado por Sarah Helena * 2:08 AM
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[Sunday, February 13, 2005]

Meu pai mandou por email esta poesia... pois é. São essas coisas que alimentam a nós, caçadores de unicórnios.


O unicórnio existe, amor

Carlos Enrique Ungo (El Salvador.)

O unicórnio existe, amor
é a risada das crianças
o milagre de um beijo
a carícia que queima
as asas tíbias de um sonho.

O unicórnio existe, amor
é a poesia de todos
o canto das aves
o rumor da terra
o perfume das flores.

O unicórnio existe, amor
é o eco de teu nome
a agonia de tua ausência
o manto tíbio de tuas mãos
a rosa sagrada de teu sexo.

O unicórnio existe, amor
é a luz de teu olhar
as estrelas de tua noite
o suave mar de teus cabelos
o território proibido de teu corpo.

O unicórnio existe, amor
e ressurge brioso
selvagem
vitorioso
quando minha boca pronuncia teu nome.



dedicado por Sarah Helena * 11:56 PM
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[Thursday, January 20, 2005]

Ano-novo

Feliz ano-novo aos que acordarem em 2005 sem a ressaca da culpa, plenos de vida na qual a paixão sobrepuja a omissão e o encanto tece luzes onde a amargura costuma bordar teias de aranha.

Feliz ano a quem não sonega afetos, arranca de si fontes onde borbulham transparências e não mira os que lhe são próximos como estranhos passageiros de uma viagem sem pouso, praias ou horizontes.
Felizes aqueles que abandonam no passado seus excessos de bagagem e, coração imponderável, recolhem à terra a pipa do orgulho e do tédio; generosos, ousam a humildade.

Ano-novo a todos que despertam hoje ao som de preces e agradecem o tido e não havido, maravilhados pelo dom da vida, malgrado tantas rachaduras nas paredes, figos ressecados e gatos furtivos.
Bom ano a quem gosta de feijão e se compraz nos grãos sobrados em prato alheio; a vida é dádiva, contração do útero, desejo ereto, espírito glutão insaciado de Deus.

Novo seja o ano àqueles que nunca maldizem e possuem a própria língua, poupam palavras e semeiam fragrâncias nas veredas dos sentimentos.
Seja também feliz o ano de quem se guarda no olhar e, se tropeça, não cai no abismo da inveja nem se perde em escuridões onde o pavor é apenas o eco de seus próprios temores.

Novo ano a quem se recusa a ser tão velho que ambiciona tudo novo: corpo, carro e amor; viver é graça a quem acaricia suas rugas e trata seus limites como cerca florida de choupana montanhês.
Tenham um feliz ano todos que sabem ser gordos e felizes, endividados e alegres, carentes de afago, mas repletos de vindouras fortunas em seus anseios.

Feliz ano-novo aos órfãos de Deus e de esperanças, e aos mendigos com vergonha de pedir; aos cavaleiros da noite e às damas que jamais provaram do leite que carregam em seus seios.

Felizes sejam, neste ano, os homens ridiculamente adornados, supostos campeões de vantagens; aqueles que nada temem, exceto o olhar súplice do filho e o sorriso irônico das mulheres que não lhes querem.

Felizes sejam também as mulheres que se matam de amor, e de dor por quem não merece, e que, no espelho, se descobrem tão belas por fora quanto o sabem por dentro.

Seja novo o ano para os bêbados que jamais tropeçam em impertinências e para quem não conspira contra a vida alheia.

Feliz ano-novo para quem coleciona utopias, faz de suas mãos arado e, com o próprio sangue, rega as sementes que cultiva.

Sejam muito felizes os velhos que não se disfarçam de jovens e os jovens que superam a velhice precoce; seus corações tragam a idade alvíssara de emoções férteis.

Muitas felicidades aos que trazem em si a casa do silêncio e, à tarde, oferecem em suas varandas chocolate quente adocicado com sorrisos de sabedoria.

Um ano feliz aos que não se ostentam no poleiro da própria vaidade, tratam a morte sem estranheza e brincam com a criança que os habita.

Feliz ano-novo aos sonâmbulos que se equilibram em fios que unem postes e aos que garimpam luzes nas esquinas da noite.

Um ano-novo muito feliz a todos nós que juramos seqüestrar os vícios que carregamos e não pagar o resgate da dependência; o futuro nos fará magros por comer menos; saudáveis, por fumar oxigênio; solidários, por partilhar dons e bens.

Feliz 2005 ao Brasil que circunscreve a geografia do paraíso terrestre, sem terremotos, tufões, furacões, maremotos, desertos, vulcões, geleiras, tornados, neves e montanhas inabitáveis. Conceda-nos Deus a bênção de tantos dons, livres de políticos que constroem para si o céu na Terra com a matéria-prima do inferno coletivo.



Frei Betto é escritor, autor de Típicos Tipos - Perfis Literários (A Girafa), entre outros livros.




dedicado por Sarah Helena * 2:26 AM
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[Wednesday, January 19, 2005]

A concepção do meu filho começou no dia em que eu, andando sozinha pela rua, me conformei com o fato de que nunca teria filhos. Eu tinha muitos motivos para acreditar nisso, e por muito tempo isso me feriu. Para alguém que segue uma divindade da fertilidade, era como uma falha inominável, um fracasso a ser carregado dia depois de dia. Mas quando comecei a estar com o Marlon, embora ele não dissesse nada de diferente do que outras pessoas haviam dito, eu me senti cicatrizar. De algum modo eu precisava que ele me dissesse que a culpa não era minha, que não era um fracasso. E a partir dai eu pude me conformar.

Passei a vida toda sem desejar ter filhos. Ele também. Nesse dia, andando na rua, me caiu essa ficha. Como era bom isso, de ele não querer ter filhos. Porque de todos os homens do mundo, dele eu sabia que nunca ia ouvir uma cobrança por talvez não ser capaz de ter filhos. Ele não se importaria. Isso foi uma certeza tão boa.

Uma certeza tão boa que, embora não mudasse nada na aparência da minha vida, mudou tudo. A sensação de que se pode fazer qualquer coisa junto com alguém. E que tudo é natural, bom e certo.

Embora haja pessoas que nunca vão acreditar nisso, a gente já planejava ficar juntos tipo juntos mesmo. A gente já tinha esse plano quando tudo aconteceu. É engraçado, porque por mais que tenha sido inesperado, por mais que tenha acontecido em uma hora que não é a que eu escolheria, não posso dizer que tenha sido em má hora. A gente já passava a maior parte do tempo juntos, eu tinha acabado de “ganhar” dos meus pais que junto com a reforma da casa eles construíssem para mim minha própria casa.

Então aconteceu. Não, nós não nos descuidamos. Bastou um único acidente, justo na data exata da minha ovulação. Não precisou minha menstruação atrasar muito, de algum modo a gente já sabia.

O teste laboratorial eu nunca peguei o resultado. Fizeram tanta palhaçada que desencanei de ir buscar e fiz o teste de farmácia só para confirmar o óbvio e já sabido. Descobri umas coisas interessantes, como que o teste de farmácia tem a mesma eficácia do laboratorial, noventa e poucos por cento. E desde o tempo do meu jogo do Pequeno Laboratório de Química Experimental, não vi uma reação tão rápida.

Lá dizia que depois de cinco minutos, eu veria o resultado. Uma linha rosa, negativo. Duas linhas rosas, positivo. Bastou a ponta do bastão encostar no fundo do vidrinho, para duas linhas de um rosa forte surgirem feito uma bandeira.

Não vou mentir e dizer que achei isso ou aquilo. Fiquei parada olhando o bastãozinho durante uns quarenta minutos, sem pensar em coisa nenhuma. Eu já tinha quase certeza, era só uma confirmação. Reação, eu não tive nenhuma.

O primeiro presente que o bebê ganhou foi da Mel. Um sapatinho vermelho (pela tradição, para sinalizar que o bebê é bem vindo, se dá um par de luvas ou sapatinhos vermelhos. Coisas da “vechia Itália”, com uma pitada de ciganagem). Foi um presságio bom. Tanta gente ficou feliz com essa gravidez, que me surpreendi. Mesmo entre pessoas que tinha certeza, iriam ficar chocadas/ com raiva/ decepcionadas, a reação foi misteriosamente muito positiva.

Foi entre os mais jovens que minha gravidez encontrou mais preconceito. Embora não falem com todas as letras, eu teria que ser cega para não perceber como é difícil para muitos dos meus amigos aceitar essa gestação. Eu tenho paciência com eles, porque são uma minoria. Dos lugares mais inesperados vem o apoio e a felicidade. Os preconceitos e os traumas de uns poucos, quem vai vencer é o tempo.

E mesmo se toda a família e todos os amigos se voltassem contra, eu tive uma certeza desde o início. Eu não podia ter um companheiro melhor para tudo do que o Marlon. Ele cuida de mim, me ajuda, se interessa, demonstra que está feliz. Aceitou tudo tão bem, mais rápido até do que eu, que fiquei paralizada de medo durante um bom tempo. Ele sempre está lá para me lembrar que os pesadelos são só sonhos ruins. Para deixar bem claro que esse filho não é meu filho, é nosso filho. Para me lembrar de que vamos ter um filho.

O momento que para mim foi mais forte que ver o bebê pelo ultrassom foi escutar o coração dele pela primeira vez. Quem ouviu a gravação que eu fiz falou em trem, bateria de escola de samba, um monte de comparações. Mas é porque eles nunca escutaram o coração de um beija flor. Eu já. E reconheceria aquele som em qualquer lugar. É tal e qual. Forte, rápido, como se fosse para contrabalançar a fragilidade do corpo. Pareço escutar aquele som quando me distraio, é uma música que decorei das três vezes que o ouvi.

Estar grávida não é bom ou ruim. Simplesmente é. Eu não sou uma outra pessoa. Mas percebo coisas que não enxergava antes. E você não sente as coisas por igual. Tem momentos em que essa constatação, de que está grávida, quase te afoga (no sentido bom de afoga). Em outras, é uma realidade simples, como “o sol nasce no leste”, e não dá para entender porque gera tanto barulho entre as pessoas.

Mas tem momentos. Como a primeira vez que senti o bebê se mexer. Eu me sentia péssima. Era um dia realmente ruim. Foi o dia em que escrevi o post que o Marte usou como desculpa para brigar comigo e me chamar de louca e tantas outras delicadezas. Estava miseravelmente deprimida, como fazia tempo eu não ficava. Me sentia distante dos meus amigos, como se eles não me quisessem por perto e estivessem arranjando desculpas para isso. O tempo estava horrível, e com o passar das horas, eu não me sentia mais triste, eu simplesmente não sentia nada. Foi nessa que ele se mexeu. Como se quisesse me lembrar que estava ali, que eu não estava sozinha, que eu tinha uma família. Como se pela primeira vez tivesse decidido me procurar, não esperar pelo meu contato, porque eu precisava dele. E isso foi consolador e bom. Se o telefone não tivesse quebrado, eu teria tirado o post depressivo do Um Canto, mas ele só voltou a funcionar mais de uma semana depois.

Eu poderia escrever muito mais, mas vai ficar chato. É melhor ir escrevendo aos poucos. Outro dia posto mais.


dedicado por Sarah Helena * 3:07 AM
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